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Setor de InConFormática |
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TORPEDOS TROPEIROS contribuições para uma crítica da cultura cotidiana ou simplesmente |
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MANIFESTOS,
PROTESTOS uma página claramente enviesada! |
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ÍNDICE Os textos
estão colocados em ordem retrospectiva, ou seja: |
abr.2006 dez.2005 dez.2005 set.2004 mar.2003 dez.2001 abr.2000 1998 |
• Manifesto do PLURALISMO RADICAL • Até o próximo crime (olhando um pouco além da emoção) • Esperamos ansiosamente pelo seu NÃO (ou Sim!) • Onde está a saída dos problemas • Mestres humanos ou crias de Frankenstein • Manifesto Pé-no-Chão ao 3.º Setor no Brasil e coisas semelhantes • O Manifesto do Reencantamento do Mundo •
Quem avisa amigo é
- carta aberta ao (ex)presidente • Os rebeldes programados da Dona Burguesia |
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Manifesto
do |
Expressão
da essência este
Manifefesto está sendo publicado revisão
atual:
2 10 anos de Associação 12
anos da articulação 16
anos de movimento 26
anos de defesa pública do 40
anos do impulso espiritual-revolucionário
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Quem
espera que união e entendimento mútuo tragam a felicidade ao mundo, Mas
a felicidade está sim ao nosso alcance: através do Só
a multiplicidade nos une, As
Ciências da Vida já nos mostraram Por
que seria de outro modo justamente na humanidade, constituída pelos
seres Cada
um poder pensar e fazer as coisas do seu jeito – se e quando quiser. |
Coletividade:
Cultura homogênea é desastre em qualquer campo! Só
a multiplicidade nos une! |
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MAS,
Atenção: Ter
que ser de um jeito que não se é Ser
excluído a contragosto, seja lá do que for, Ser
incluído a contragosto, seja lá no que for, Ter
que entregar a bolsa ou a vida a contragosto Ter
que entregar sua força de trabalho sob condições insatisfatórias Não
poder decidir ou nem participar das decisões Oprimir
é expropriar de outro ser humano sua própria condição de humano: |
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Por
sua natureza, todo ser humano é capaz Acontece
que o ato de oprimir deflagra, inevitavelmente, Fora
uma pequena parcela Que a capacidade de oprimir é parte da liberdade humana, isso não há como negar – ...
mas só haverá chance de felicidade em nosso horizonte ...
quando
a humanidade combinar que vale tudo, menos oprimir – ...
quando combinar
que nada pode ser imposto Que
nada seja imposto por ninguém a ninguém
eis o anel virtuoso capaz de garantir |
Respeito. |
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Todas
as leis e demais instituições da humanidade podem Essa
é a mais completa e definitiva das revoluções possíveis para a
humanidade – Mas
não precisamos temer nos sentirmos oprimidos por essa única imposição:
CONVÍVIO – o estado em que os diferentes vivem lado a lado e em paz Só
a multiplicidade nos une, Revolução
da idéia de Revolução até o seu limite, Piratininga,
07.09.2008
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Até
o próximo crime |
2
mensagens
distribuídas na internet
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Sim,
eu também chorei ao observar a cena, detalhadamente, na minha tela
mental Mas
está difícil conviver com a enxurrada de mensagens e manifestações Sim,
estou falando da brutal morte de um garotinho de 6 anos arrastado por 15
minutos dependurado do carro da família tomado por jovens assaltantes
num subúrbio do Rio de Janeiro. A
maior parte das mensagens clama pra que os governantes façam algum
coisa, e rápido. E, talvez para não se sentirem omissos, muitos
até sugerem o quê. Na
copa todos viram técnicos de futebol, nestas horas todos sabem a solução
– geralmente jurídica e/ou policial. Talvez alguns até ousem acenar
para o pedagógico, o que é um passo mais avançado – mas sou o
primeiro a concordar que insuficiente. Pedem
leis mais severas – coisa que nunca inibiu e nunca inibirá os dois
tipos de gente que comete os crimes mais bárbaros: os psicopatas
perversos (distúrbio neurológico) e os que não têm nada a perder. Pedem
o “fim da impunidade”, como se os presídios já não estivessem
estourando de gente que cometeu crimes da natureza desse assalto, e
muito piores, apenas sem a infernal “ajuda” do acaso que acabou lhe
conferindo tamanha visibilidade. Esperam
talvez que se invente um detector de criminosos potenciais, capaz de
identificá-los nas ruas antes que cometam qualquer crime. É provável
que saibam que a ciência diz que uma corrente sempre arrebenta no elo
mais fraco... mas seguramente não sabem que a Teoria do Caos demonstrou
que o único modo de a ciência saber com certeza qual é o elo
mais fraco é tracionar a corrente até arrebentar – e depois ver
qual foi o elo que arrebentou... Não
sei se algum dia haverá como superar totalmente o risco dos psicopatas,
que sempre existiu. Mas depois de 14 anos trabalhando e vivendo com
jovens de periferia talvez saiba dizer alguma coisa sobre “gente que não
tem nada a perder”. Mas
não pensem que depois desses 14 anos eu sugira que levemos mais uma
colherinha de açúcar para adoçar o mar. Que
nós continuemos a acreditar que a chave do progresso é um sistema de
geração de riqueza que não tem como funcionar sem que haja sempre uma
considerável massa de desempregados de reserva, e que esse desemprego
em massa gere vastas regiões onde crianças crescem sem chance de
nenhuma amostra do que é bom, belo e verdadeiro – ... pois inclusive na mais tenra idade toda pré-escola que se lhes pôde oferecer foi uma tevê sabiamente orientada pelas leis do livre mercado... ...
em que o entretenimento-padrão era assistir crimes bárbaros um após o
outro, horas, dias e anos a fio, resultando em imbecis incapazes de
perceber o mínimo valor numa vida humana, nem distinguir o encenado do
real – e isso só para começar... ... não,
isso tudo não tem nada a ver com o caso não. Dizer que o sistema
capitalista é o culpado é coisa de dinossauros, o muro de Berlim já
caiu, a história-como-busca acabou, já vivemos no melhor sistema possível.
Moderno
mesmo é procurar um bode expiatório e pregar na cruz. Aí poderemos
dormir tranqüilos. Até
o próximo crime. |
Palavras que acompanharam a segunda mensagem (21/02): Prezados - espero de coração Acontece que VOCÊ estava entre as
pessoas que receberam meu texto de 11/02 (Até o próximo crime),
Ralf Rickli
|
Para
uma missa de 14 dias numa 4.a feira de penitência 21.02.2007
Ah,
se fosse assim tão simples! Se houvesse pessoas más em um lugar,
insidiosamente cometendo más ações, e se nos bastasse separá-las
do resto de nós e destruí-las! Mas a linha que divide o bem do mal
atravessa o coração de todo ser humano. E quem se disporia a
destruir uma parte do seu próprio coração? A.Soljenitsyn
(apud Zweig e Abrams,
Ao encontro da sombra) Nada,
jamais, pode ser entendido a menos que olhemos por muitos lados, dos
quais alguns serão sempre aparentemente contraditórios(ver
p.ex. a Teoria da Complexidade de Edgar Morin).
O que estou fazendo aqui é compartilhar alguns ângulos que até
agora não vi explorados na imprensa nem nas mensagens da internet,
sobre a morte do menino João Hélio em 07.02.2007 e sobre o seu
contexto. 1. O alcance limitado das leis Por
um lado, não há dúvida de que muita coisa pode e deve ser melhorada
nas leis brasileiras. Por
outro, é absoluta ilusão imaginar que exista alguma melhoria possível
no aparato de leis e no sistema repressivo que possa dar garantia
de que um tal crime nunca venha a ocorrer. Podemos tentar reduzir as
probabilidades, mas alguma possibilidade sempre restará, como parte
das incertezas inexoráveis da existência. Um
dos mais fortes clamores logo após o crime foi por “providências
imediatas das autoridades”, como por algo de novo. Na realidade as
providências cabíveis já estão previstas nas leis, e são
precisamente as que foram tomadas: a prisão, em poucos dias, de todos
os responsáveis. Quanto
às leis que serão aplicadas no processo que se seguirá, é provável
(como já disse) que possam ser bastante melhoradas - mas de nenhum
modo se pode dizer que sejam brandas. E pensar que qualquer
endurecimento adicional pudesse ter impedido esse crime e outros
semelhantes, isso é acreditar em varinha-de-condão. Além
disso, pensar que as leis devam ser mudadas a cada crime que chega a
acontecer, “pois, se as leis fossem acertadas, os crimes não
aconteceriam”, é falar com um desconhecimento de causa atroz; com
uma leviandade que, sobretudo quando reforçada pelo poder
formador de opinião da grande imprensa, chega ela mesma a ser
criminosa. 2.
Há algo de novo nesse crime? Paulo
Coelho referiu-se a esse crime como sinal de o quanto estaríamos nos
aproximando do “mal absoluto”. Por melhores que sejam as intenções,
isso também não passa de fantasia que termina por nos obscurecer a
percepção do real, e com isso termina atuando no sentido contrário
das boas intenções. Por
triste que isso seja, não há novidade nenhuma em um crime assim na
história humana. Os mais antigos textos da humanidade, inclusive o
Velho Testamento, estão repletos de relatos das maiores atrocidades
cometidas por “dá cá aquela palha”. Dostoievski gasta algumas
das mais profundas e quase insuportáveis páginas de Os Irmãos
Karamázovi relatando as mais bárbaras atrocidades contra crianças,
muitas delas cometidas pelos próprios pais - baseando-se para isso em
notícias dos jornais da época. Eu
gostaria, aliás, de poder dizer que a atual indignação diante de
crimes assim fosse um sinal de estarmos, ao contrário, nos deslocando
na direção do bem... mas creio que também seria ilusão: por
um lado, como em certos relatos bíblicos, a indignação em si justa
continua levando a reações que são às vezes tão ou mais iníquas
que o crime original. Por
outro, porque a violência física e/ou psicológica contra crianças
(sem nem falar agora de outras categorias de violência) continua um
dos fatos mais comuns do nosso cotidiano – e embora com não muita
freqüência, não se deve desconsiderar que tal violência às vezes
chega a resultar em morte (direta ou indiretamente, como suicídio). Mais
significativos, porém são os aleijões psíquicos
resultantes, encontrados na maior parte da população (isto é:
de nós), os quais são sem sombra de dúvida uma das
principais vertentes que alimentam a probabilidade de crimes como o
perpetrado contra João Hélio. A
inequívoca culpa da instituição “família”, como a conhecemos,
está sobejamente demonstrada por gente como Ronald Laing ou Arnaldo
Rascovsky, mas preferimos continuar nos fazendo de desentendidos,
dizer que tais estudiosos é que são mentes doentias e – como faz o
Estatuto da Criança e do Adolescente – fantasiar que a família
como a conhecemos seja parte da solução, e não do problema. No mínimo
por essa gigantesca mentira somos sim todos culpados - desta
vez concordando no genérico com a formulação de Paulo Coelho. 3.
Coloque-se no lugar por um instante O
ser humano é incapaz de compreender o que quer que seja a não ser
quando se coloca “no lugar de”. Isso não necessariamente
significa perdoar! – mas entender é essencial mesmo quando não
seja para perdoar. Neste
caso é evidente que a intenção inicial do grupo criminoso não era
matar nenhum garotinho: era roubar um carro, fazendo o que fosse
necessário para isso. Não são mais monstros do que milhares e
milhares que continuam por aí com intenções do mesmo tipo. Nem
um pouco mais, aliás, do que um especulador de bolsa que tira
vantagem de quebrar um país, mesmo sabendo que milhares de crianças
irão sofrer ou mesmo morrer em conseqüência disso. Por
que os ladrões não pararam ao perceber que o garotinho estava lá?
Uma, porque haviam saído para a guerra; e a diferença entre
essa violência e outra qualquer mais comum (como por exemplo atirar
na mãe diante da criança) termina desaparecendo na embriaguez do
calor da batalha. (Ou será que também não é verdade dizer “na lucidez
do calor da batalha?” Pois trata-se de um estado endógeno bastante
semelhante ao do efeito da cocaína - lucidez de raciocínio com
supressão dos sentimentos -, droga presente em boa parte das decisões
de altos executivos, como as referidas no parágrafo anterior. Para
concluir este aspecto: me pergunto como é que não se está vendo
que, sendo os ladrões quem eram e vivendo onde viviam, era evidente
para eles a altíssima probabilidade de serem imediatamente linchados
se parassem o carro para soltar o menino! 4.
Onde concordo com a insuficiência das penas - porém de outro
jeito... A
irmã de João Hélio falou que os criminosos devem “pagar
pelo que fizeram”, independente da sua idade. Natural que o diga, é
quase uma criança. Mas alguma pessoa madura pensará que há no mundo
preço capaz de pagar pela vida de uma criança? Desculpem,
mas, se pensar isso, é que ainda não está madura, mesmo que
tenha 60 anos! A
idéia de justiça como castigo ou punição é uma infantilidade ou
primitivismo que precisa ser superada o quanto antes. Há só três
sentidos racionalmente consistentes na aplicação de penas (palavra já
em si inadequada): (1) a tentativa de reeducação ou de terapia
do criminoso, tanto quanto possível; (2) quando possível, a
reparação objetiva do dano (por objetiva quero dizer: de valor não
meramente simbólico), o que em si também é parte do primeiro
sentido (reeducação ou terapia); (3) quando impossíveis os casos
anteriores, o isolamento continuado do criminoso, não como punição
mas como proteção ao restante da sociedade. Em
artigo na Folha de S.Paulo em 15/02, o psicanalista Contardo
Calligaris dirigiu sua usual lucidez contra a hipocrisia que nos
impede de aceitar essa realidade: independente de sua idade no momento
do crime, o ser humano psicopata precisa ser isolado e tratado até
que possa ter alta com considerável segurança – o que pode levar
10 anos, ou nunca acontecer. Isso
equivale a dizer que precisamos, sim, contar com a instituição
da internação perpétua - e também com a internação de menores
por mais de três anos. Contardo tem razão: negá-lo é irracional e
hipócrita. Porém... É
importante perceber a imensa diferença entre esta posição
conquistada por conhecimento e por racionalidade, e aquela outra que
prevê aparentemente as mesmas coisas com o caráter de castigo.
No mínimo porque estamos falando de tentativas de terapia e/ou
reeducação reais, quando cabível, não dos simulacros
usuais. E de, quando a recuperação não for possível, de internação
em condições humanamente dignas – que de nenhum modo facilitem a
continuidade das ações criminosas (como os famosos celulares) mas,
sim: em condições humanamente dignas. Pois não se trata de castigo
nem de punição, e sim de proteção universal a todos os seres
humanos: tanto aos que estão fora, como à pessoa do próprio
criminoso, a ser protegida de seu próprio lado destrutivo quando
insuperável. 5.
"Nós" e "eles": o lado mais delicado da questão Tudo
isto, porém, esconde ainda mais uma questão – uma questão tão
profunda, tão grave e que o país denega tanto, que sei que
corro o risco de ser eu acusado de doente por tentar
expor a doença denegada (em termos psicanalíticos, aquilo que
negamos que existe, e em seguida negamos até que tenhamos
negado... pois... afinal... “não existia nada lá para ser
negado, não é mesmo?”) A
maior parte das propostas partem do pressuposto de que há grupos
nitidamente separados na sociedade: “os cidadãos de bem” e “os
bandidos” – ou pelo menos um grupo do qual às vezes sai um crime,
mas é exceção, e outro do qual saírem crimes é a regra. Dois
grupos que seria possível identificar com clareza – pois se não
como se poderiam tomar medidas de precaução, como se quer? Trata-se de uma operação muitíssimo bem conhecida na psicologia, sobretudo na junguiana, com o nome de “projeção da sombra”. No fundo todos sabemos que somos capazes do mal, que somos todos capazes de todos os crimes – mas negamos ter em nós a parte que seria capaz disso. E
então escolhemos um outro que pareça bem diferente de nós, e
imaginamos: “se existem no mundo tendências ao mal, elas
estarão lá, no que é bem diferente de mim. Em mim e nos meus
não há nada disso não!” Não importa quem esteja falando, o mau
é sempre o outro, nunca eu! Somos uma imensa sociedade de “eus”
inocentes e de “outros” culpados... É
óbvio que o outro também tem sua própria fração de maldade: é humano!
Mas a maldade que eu imagino estar vendo nele não é a dele: é
a minha, que eu nego ter. E
isso se torna especialmente perigoso quando passa à dimensão grupal,
ou ao imaginário social: arianos e judeus, hutus e tutsis,
“cidadãos de bem” e “bandidos em potencial”. Não
cabe detalhar aqui os meandros históricos do caso brasileiro, o que
daria diversos livros (e já tem dado; ver p.ex. o de Roberto Gambini)
– mas grosso modo as classes alta até média-média
(fortemente minoritárias) se identificam como “os cidadãos de
bem” e projetam no restante da sociedade (a grande maioria) a imagem
de “bandidos em potencial”. Como
já disse no artigo inicial, falo a partir de 14 anos de trabalho e
convívio íntimo com moradores de favelas e situações semelhantes
– ou seja: “bandidos em potencial”. Alguns de inteligência e
sensibilidade refinadíssimas e com as mais nobres escolhas de vida...
mas pela generalização corrente todos “bandidos em potencial”. É
daí que sei que as medidas que os “cidadãos de bem” costumam
exigir terminam significando apenas um aumento da tensão e do risco
de arbitrariedade sobre uma população que já é a principal vítima
da situação toda, uma população que convive no dia-a-dia, anos
e décadas a fio, com um grau de sofrimento que os senhores “cidadãos
de bem” não conseguem nem supor que seja possível alguém agüentar
dois dias. Mas
quem é essa população? Deixemos
a hipocrisia de lado: são basicamente os descendentes de (1) os
ameríndios expropriados de suas terras e culturas a partir de 1500;
(2) os africanos escravizados e depois abandonados sem condições
de recomeçar, sob o nome “libertação”; (3) os brancos que
não tiveram competência (ou insensibilidade?) suficiente para
garantir seu lugar entre os que se aproveitaram dessa situação. A
mera existência dessa população é um lembrete incômodo de que, em
nosso país, TODO o bem-estar de que alguém desfrute vem assentado,
alicerçado, nesses dois vastos crimes fundadores. E
aí precisamos desesperadamente esquecer que nosso bem-estar se alicerça
no mal, precisamos desesperadamente mostrar que o mal é característica
exclusiva deles lá, não nossa. (Que
um pitbull que guarda propriedades dilacere uma criança na rua - como
já aconteceu... isso causou algum apelo por pena de morte aos
proprietários irresponsáveis de pitbulls?) Para
concluir: a pesquisa genética já demonstrou que a população branca
brasileira só tem cerca de 1/3 de gens brancos pelas linhagens
maternas: os outros 2/3 são mais ou menos igualmente divididos entre
gens ameríndios e africanos. O
mais trágico dessa situação toda é então o patético esforço de
negar em nós, “os de sucesso”, qualquer parentesco com “essa
gente lá”, traindo o que trazemos em nós de nossas avós, bisavós,
tataravós. Como
lidar com isso? Não é assunto para um fim de artigo! Talvez para
outro artigo, porém mais realisticamente para uma série, uma obra, várias
vidas... Me
limito agora a declarar, com a mais absoluta convicção, que não
haverá melhora no país, por séculos, a menos que “os de cima” se
assumam como os iguais e irmãos “dessa gente” que de fato são;
...
a menos que desistam inclusive de mentir que pretendem incluir “os
de baixo” no seu projeto “de cima” (o que é evidentemente
impossível, nem o planeta o suportaria!), e passem a se incluir
junto aos de baixo num vasto projeto único de busca de
bem-estar para todos... (...
o que talvez devesse começar por abandonar a segregação dos seus
filhos nas escolas particulares). Isso
jamais? Ah, então não se queixem das conseqüências, senhores! A
escolha foi vossa! Da
minha parte estou aqui tentando fazê-lo em respeito aos evidentes traços
indígenas da Dona Zica, minha avó (sempre negados na família...) e
à linhagem de valentes escravas e pós-escravas emprenhadas por
filhos de senhores, de onde saiu meu avô Seu Aníbal... (e, de resto,
a tudo o que o mato tenha conseguido gerar de caboclo nos suíços
Rickli em 138 anos). Porque
aqui, descalço neste chão e com os ancestrais vibrando em mim, eu
ainda consigo sentir um pouco de esperança. Nas justificadas prisões
que são esses apartamentos de luxo pretensamente globais, não há
mesmo outra coisa a enxergar a não ser crescente desagregação. Culpa
de quem? |
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Esperamos
ansiosamente pelo seu 'NÃO' |
uma em forma de mensagem
a
de todos os tipos, Escrevi esta mensagem como:
- porém não como coordenador ou representante oficial da Trópis, 03.04.2006
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Esta mensagem vai para dizer o quanto espero pelo seu NÃO! Mas não me entenda mal: gostaria ainda mais de receber um SIM aos convites ou propostas que eu tenha lhe enviado - mas, se isse não for possível, que venha logo o "não", ou pelo menos um "aguarde, estou/estamos pensando no assunto". Todos nós sabemos: na cultura brasileira a palavra "não" é tabu, não pode ser pronunciada... Existem coisas maravilhosas na cultura brasileira, outras terríveis, geralmente as derivadas da escravidão - especialmente a desvalorização do trabalho físico e o tabu quanto a expressar desacordo, ou seja: dizer "não". Ora,
é claro que uma vida só de concordâncias não é possível!
O que precisamos é estar de acordo que não ficaremos de mal
por discordarmos aqui e ali, pois ali e aqui também concordamos!
Mas se não sabemos dizer "não", boa parte da vida se torna
apenas um cenário, ... e fica complicadíssimo viver, porque nunca sabemos com certeza sobre que pedra podemos construir, porque é real, sobre qual não podemos, porque é cenário.
Dá para escrever uma tese inteira sobre as implicações das duas, mas... - não, não se assuste, não vai ser aqui! Por agora queria apenas que você, de coração, sentisse, como eu, que nada vai melhorar e que nossas mais lindas intenções e discursos viram farsa nociva se não aceitarmos o desafio de transformarmos nossa cultura nesse ponto. Afinal, qualquer uma das formas de não dizer "não" é um meio de fazer nossa vontade prevalecer sobre a do outro deslealmente, sem o ônus de lutar ou de carregar qualquer responsabilidade por isso. Exemplo típico é o "cozinhar em água fria": não digo o que quero nem o que não quero, nem dispenso o outro, mas vou levando até que ele não agüente mais e tome uma atitude - muitas vezes uma explosão em desespero de causa, para não "ter um treco" - e aí eu consegui o que eu queria... deixando a responsabilidade ou culpa recaírem sobre ele. Outra razão comum é tentar evitar que me fechem portas embora eu não assuma nenhum compromisso de entrar. Ou seja: tentar não excluir de antemão possíveis vantagens que talvez possa haver no futuro - não me importando um mínimo com quê prejuízos minha indefinição poderá causar nos processos do outro. Por inofensivas que essas coisas pareçam, olhadas com cuidado as palavras que lhe cabem não são menos que "manipulação" e "opressão". E por essas e outras é que dizemos sempre que a única coisa capaz de melhorar o mundo será "uma revolução ética na micro-estrutura do cotidiano". |
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Mas não quero terminar sem comentar a forma mais moderna, aparentemente elegante, profissional e clean que a mesma coisa vem assumindo agora, especialmente em São Paulo: julgar que é aceitável, entre dois seres humanos, não responder nada quando outro nos dirige a palavra. Agir como se o outro não existisse - coisa que jamais foi considerada decente ou aceitável em nenhuma cultura humana. Em alguns lugares e épocas, fazê-lo seria o mesmo que convocar um duelo de vida ou morte, quem sabe uma guerra de clãs - e mesmo os ingleses, tantas vezes tão friamente soberbos, eram tradicionalmente ensinados a nem abrir uma carta se já não tivessem em mãos papel, pena e tinta para a resposta.
Ora, com 200 mensagens diante mim, na verdade 1 ou 2 minutos são suficientes para reconhecer quais são anúncios, quais têm caráter de comunicação pessoal. - A outra é:
Ora, na verdade todo mundo sabe que (como dizia sempre minha mestra de piano, Ingrid Seraphim): "ter tempo é uma questão de preferência", e se o outro tomou do seu tempo para dirigir a palavra a mim - porque viu razões para isso - o que me dá o direito de achar que isso não custou nada a ele, ou que só o meu tempo tem valor? |
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Claro, é evidente que tenho todo direito de preferir não interagir com fulano. Mas se ele me dirigiu a palavra pessoalmente, a coisa menos brutal que posso fazer é dizer "não, obrigado, não quero", ou no mínimo (se for verdade) "agora não". Isso parece brutal? Brutal mesmo, indignamente brutal, degradantemente brutal, é fingir que não ouviu... ... atitude que, como já disse, nunca foi aceita nas culturas tradicionais da humanidade - nem pode ser aceita por ninguém que se proponha a cultivar uma vida humanamente digna.
Deixo claro então que dou meu já conhecido "berro" como ato revolucionário: um ato consciente de não-aceitação e denúncia de uma mais que grosseria, de uma forma de violência que se conta entre as principais responsáveis pela degradação do convívio humano, pelo estado de desrespeito recíproco surdo, invisível, porém constante que nos acostumamos a considerar natural! |
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E o outro caminho é tão simples... Não quer aceitar meu convite, minha proposta, meu projeto? Por favor, diga "não". Isso me deixa livre para procurar outro parceiro, outro caminho. Não tem certeza de que quer dizer "não"? Por favor, diga isso - ao mesmo tempo que propõe (a mim e a si) um prazo para sua decisão. Diante disso também posso desenvolver no mínimo um planejamento relativo ou condicional das minhas ações.
Deixando claro, porém, que não é que morramos de amores pelo "não": quando você disser "sim" seremos mais que gratos, seremos exultantes - e iremos logo procurar, juntos, alguma maneira de celebrar! Afinal,
é por uma vida de verdade que lutamos
(e essa luta |
ONDE ESTÁ A SAÍDA DOS PROBLEMAS |
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da Associação
TRÓPIS no Natal de 2005 |
Quando
algum amigo ou amiga diz que está enfrentando problemas, Mas geralmente o assunto não termina aí: muitas vezes vemos claramente que essa pessoa encontrará soluções para os seus problemas - ou pelo menos encaminhamentos para eles - se parar de tentar enfrentá-los diretamente, no seu campo de batalha de sempre, e vier nos ajudar a enfrentar os nossos problemas (ou os de outras pessoas ou grupos que trabalham como nós na reinvenção da possibilidade do Convívio Humano). Aí
fazemos o convite: "olha,
a solução que você procura pode estar aqui, E aí... nosso
amigo ou amiga se desculpa: "eu
gostaria muito de poder ajudar, mas agora não dá. Não
sei se ela ou ele realmente acredita que um dia estará
de fato sem problemas, como condição para ajudar os outros -
o fato é que segue lá, se batendo sozinha(o) com problemas ... e nós seguimos aqui com os nossos, apesar da nossa boa disposição! Quando é que vamos todos acordar para o fato de que O NOSSO DESTINO NOS FALA SEMPRE ATRAVÉS DAS NECESSIDADES DOS OUTROS QUE PÕE EM NOSSO CAMINHO? Quanto mais cuidamos da nossa vida a partir de razões puramente nossas, isoladas, menos livres nos tornamos: mais e mais ficamos na dependência da "proteção" do "sistemão" monstruoso da vida moderna - que cobra "apenas" a transfusão da nossa Vida para suas veias, e de nossas almas para seus nervos metálicos. |
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Nesta
época do ano ...
mensagem sem o menor laivo de beatice ou ingenuidade SOLIDARIEDADE LIBERTÁRIA. Afinal, se é verdade que o Divino se encontra em semente em cada ser humano individual, o fato é que tal semente nem ao menos germina senão quando inserida no terreno que é a VIDA CONJUNTA (humana e dos demais seres da Terra e do Universo): tornar-se divino é assumir responsabilidade pelo sustento e bem-estar de algo além de si. Eis aqui, então, o nosso presente de Natal: TEmos um monte de problemas esperando por você! Mas
só os oferecemos porque sabemos que
frente aos seus problemas Que tal aprofundar nosso envolvimento em 2006?
Beija-Flor: foto de Carlinhos do Santos incluída na mensagem original |
Mestres humanos ou crias de Frankenstein |
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Trabalho
de 64 páginas Nesta
página: |
O trabalho com o título acima nos ocupou quase integralmente por 70 dias de 2005, e é uma proposta positiva para os cursos de formação superior de professores e outros profissionais da Educação (hoje divididos em Pedagogia, Licenciaturas e Normal Superior). Tal proposta positiva só faz sentido, no entanto, no contraste tanto com os modelos já estabelecidos quanto com as novas diretrizes baixadas pelo Conselho Nacional de Educação. Desse
modo, uma parte do trabalho foi a análise crítica de uma das últimas
versões de trabalho dessas diretrizes, distribuída no mundo
pedagógico brasileiro em setembro de 2005 Para
dar idéia, transcrevemos aqui os títulos de capítulos da seção em
questão, 1.2.1. Manejo deficiente da lógica - ou a ruptura cérebro-cabeça 1.2.2. Confusão entre levantamento histórico e justificação 1.2.3.
Curso de Pedagogia, licenciado, disciplinas pedagógicas: 1.2.4. Confusão quantidade-qualidade; o autotratorvião 1.2.5. Ideologização das contribuições integrantes 1.2.5 e meio: Um meio passo adiante 1.2.6.
Desonestidade nuclear: o punhal nas costas das habilitações Para o download clique ou vá até |
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Ensinar a pescar ? |
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Escrito
de chofre e divulgado enquanto
escrevia o artigo
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Não me venha com esse papo de me ensinar a pescar. Essa não é minha profissão e não pretendo que um dia venha a ser. Ademais, não estou pedindo que você me doe esse peixe, estou pedindo apenas que me entregue alguns do que pescou em troca das redes que fiz , das varas que preparei, das trilhas que abri no mato até o rio para você pescar |
MANIFESTO
PÉ-NO-CHÃO |
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divulgado em 12.03.2003 na Lista FundBR (ponto de encontro internético de captadores e outros interessados em captação de recursos para o Terceiro Setor) |
Não duvidei: era o óbvio. Mas nunca achei
que as receitas tradicionais, nem da direita nem da esquerda, dessem conta da
realidade. Professores politicamente avançados também podem ser mortalmente
chatos, destruindo nos alunos todo prazer de conhecer – e sabemos quantos
desastres tanto o Oeste quanto o Leste impingiram ao meio ambiente. Por isso
sempre fui atrás do alternativo: no conhecimento, na agricultura, na
educação, na administração... Nessa busca fui parar na Inglaterra, onde
deparei com Judy Hurley (depois Bloomgardener), egressa de quantos movimentos
alternativos norte-americanos se possa imaginar: anti-nuclear, feminista, de
agricultura orgânica... Assim que voltei, minha mestra quis conhecer
o Brasil. Preparei cuidadosamente uma agenda visitando tudo o que me pareceu
alternativo no novo país que eu encontrara (pós-abertura Geisel). Judy passou
zunindo por tudo aquilo e poucos dias depois estava profundamente envolvida com
as Comunidades de Base da época (1982) – que me pareciam então de um esquerdismo
tão convencional e pouco... “alternativo”... Diante da minha surpresa, Judy deixou claro
entender que uma alternativa que não se referisse à absoluta maioria da
população do país não era alternativa nenhuma, era pura imitação de modelos
externos. Seu trabalho, na realidade norte-americana, havia sempre sido
política de base. A política de base aqui seria outra, de acordo com as
urgências locais. (Depois disso Judy coordenou por alguns anos o movimento
Abraço, nos EUA, pelo cancelamento da dívida do Terceiro Mundo, antes de se assentar
como terapeuta de refugiados...) |
|
Revejo o caminho mais uma vez: 1968: eu, com
11 anos, olhando fascinado de longe as cores do movimento hippie... Depois, com
20 e pouco, me engajando quando esse já tinha virado “movimento alternativo”...
Pra me contarem, aí pelos 40, que eu era parte do “terceiro setor”: iniciativa
da sociedade civil com objetivos sociais. Hoje não dou conta de ler os inúmeros boletins e anúncios de seminários que me prometem ensinar como cuidar do Terceiro Setor com as ferramentas da Administração de Empresas – ou então como cuidar da Administração de Empresas com ferramentas, digamos, alternativas (p.ex. meditação). Tudo incrível, maravilhoso. E inacessível a quem vem há anos
tentando desenvolver, no nível do chão, “sem parentes importantes e vindo do
interior”, alternativas reais para jovens que encontram limitações
econômicas na sua busca de desenvolvimento humano integral. |
O
número absoluto está obviamente superado A expressão em porcentagem é provavelmente próxima da realidade, e hoje não apenas para o Brasil mas para o mundo como um todo ... fato que talvez se possa relacionar com o rótulo "brasilianização da sociedade", criado por sociólogos e economistas de outros países na década de 1990 ou pouco antes.
Longe
dessa grita, Manuel
Bandeira,
em Os Sapos (1918) Este é o fim do poema, que antes descreve uma competição de falas vaidosas entre os mais variados sapos (referência não explicitada na primeira divulgação deste texto) |
Colegas: pelo menos 85% dos brasileiros, 145
milhões, “encontram limitações econômicas nas sua busca de desenvolvimento
humano integral”. Sim, não menos – se isso inclui, p.ex., um bom
psicoterapeuta,
um ensino inspirador, um pão integral sem resíduos tóxicos... um bom seminário
sobre cooperação. E as alternativas maravilhosas que cintilam
na internet, atingem a quantos deles mesmo? Ou, mesmo que pretendam, quanto do
investido chega ao nível do chão, quanto fica pelo caminho remunerando a tão
decantada profissionalização do terceiro setor? A qualidade dos serviços sociais
profissionalizados agora encanta nossa sociedade esclarecida – na forma de
balanços e relatórios bem escritos! Quem vai lá conviver com os atendidos alguns
dias e sentir a qualidade do conteúdo do trabalho? Os meios adoram tomar o lugar dos fins, e o
acessório custa várias vezes o essencial. Pois já o “investimento” requerido pelos cursos que prometem ensinar uma pessoa a gerir adequadamente a relação custo-benefício nas iniciativas sociais, esse investimento é com freqüência um múltiplo qualquer do valor com que a iniciativa, de um jeito ou de outro, fazia mensalmente o milagre de atender umas dezenas de crianças, ou algo assim.
Quanto altruísmo da parte de profissionais que deverão abrir mão da maior parte
do retorno desse investimento! Ou... ? Pois é, uma suspeita chata insiste em zunir
em volta da minha cabeça: essa tal profissionalização do terceiro setor não
seria apenas um mercado de trabalho alternativo vislumbrado pelos profissionais
da área econômico-administrativa, pressionados demais no seu próprio setor –
porém menos preocupados com os efeitos sociais últimos de sua atuação que com o
preço da banana no interior da Nova Guiné? Mas não, não, imagine se uma coisa dessas
seria possível, longe de mim tal interpretação maldosa! De um modo ou de outro, fica cada vez mais
difícil, a simples cidadãos que quiseram tomar uma iniciativa social, conseguir
realizar alguma coisa, ou mesmo sobreviver, nesse mundo tão profissional! Não dá
mais pra ser cooperativo a não ser competitivamente! Mas como sempre houve gente estranha nesse
mundo... ainda estamos aqui... sapo cururu... na beira do rio... à espera de
colaboração... da cessão de uso de bens, como sempre cedemos... da doação de
serviços, como sempre doamos... ou de sua execução por remuneração simbólica,
como a que qualquer professor de escola pública recebe mês após mês... fazendo
de um modo ou de outro nossos pequenos milagres... neste país exótico aqui
embaixo, onde ainda se anda com pés no chão.
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O Manifesto do Reencantamento do Mundo |
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Este
texto foi
escrito ... a partir do mote "Reencantamento da Educação" ...
surgido em conversas e aulas com os Profs.Drs.Marcos Ferreira Santos
e |
Jovens
e adultos,
crianças
e velhos de coração vivo, Acontece que
o suco da realidade está além do que pode ser reduzido a peso,
medida, preço. Salvar
Galileu e queimar Giordano Bruno deu numa civilização manca. Encantamento!
Não, não falamos de simulacros, de sonhos enlatados disneyanos Sábio é quem
com tudo se espanta (André Gide). Gente como Goethe e Aristóteles via aí Olhos de criança ávida de conhecer o mundo! Todo Ser Humano
é capaz de se encantar... |
Foi lançado
como parte de uma campanha por Anabela Gonçalves no intervalo de um show da banda Provisório Permanente aquela noite
representada por
no Centro Cultural Monte Azul,
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É sério:
só com profissionais encantados teremos mundo onde valha a pena viver. Até que o
sonho realize cidades menos irracionais, até que os funcionários dos três setores
suicidem essa violência estéril chamada burocracia, até o último juiz enxergar que
condicionar Justiça a "excelências" e "meritíssimos" é
opressão indigna de subsistir num mundo digno de subsistir. Felicidade,
sim!, como objetivo da sociedade! O que é
preciso... é cultivar nosso jardim (Voltaire). Mirantes em
toda parte |
A expressão Fique
de olho foi
usada como slogan da campanha, e Para
essa escolha, |
Não, não adianta disfarçar: jamais haverá encanto verdadeiro enquanto for privilégio de poucos.
Basta da falsidade do tal "princípio do proveito próprio" (Adam
Smith), ENCANTAMENTO PARA TODOS pode salvar você do tiroteio: muros e grades jamais. Sabemos
como. Balas não voam sozinhas: seres humanos apertam gatilhos
Mas no meio do tiroteio
colhemos flores – e plantamos.
Ainda no meio do caos recuperamos o poder de encantar-se com
estrelas, Devolver às
mentes as imagens seqüestradas do Bom, do Belo, do Justo, do Verdadeiro.
Que acima de tudo se devolva a cada
Ser Humano o seu direito máximo: |
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ENCANTAMENTO PARA TODOS pode salvar você
E SEUS FILHOS Sabemos
como.
Mas é preciso que uma parte dos seus carros novos Apóie
este impulso e demonstraremos sua realização – no tempo que você quiser: Começar a reencantar-se e a reencantar o Mundo: quem pode é VOCÊ. |
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QUEM AVISA AMIGO É
carta aberta ao (ex)presidente que jogou fora a chance |
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Este texto foi escrito e distribuído pela internet em 23.04.2000, domingo de Páscoa, sob o impacto dos acontecimentos do dia anterior. Na foto acima, o índio Gildo Terena tenta parar as tropas de choque que atacaram a caravana de índios que tentava chegar ao local onde o Presidente da República do Brasil celebrava os 500 anos de 'descobrimento' com convidados estrangeiros. Na foto abaixo, índios levantam símbolos cristãos e integram seu discurso aos ritos da Páscoa, em cerimônias paralelas às oficiais. As
duas fotos foram escaneadas |
Começo por esclarecer que não sou ligado a nenhum partido, Sr. Presidente. Sou apenas um cidadão brasileiro de 43 anos, classe média, que gastou todos os seus (modestos) recursos dando aulas a jovens da periferia de São Paulo sem que ninguém lhe pague para isso, por paixão e fé no povo brasileiro. Dia 22 fui "sentir a multidão" no show de Caetano Veloso e Dulce Pontes. Acostumado a esses shows no Parque Ibirapuera, estranhei que houvesse tanta tensão no ar. Pessoas pareciam a um passo de brigar por qualquer coisa - e de fato alguma latas e garrafas plásticas voaram, além de gritos. Mesmo gostando da música, havia um mal-estar difuso pelos rostos. Era evidente que a maior parte das pessoas queria ver um show, mas não queria que pensassem que estavam comemorando os 500 anos. "Comemorar o quê?", foi a pergunta da semana, nos jornais e nas ruas. Sou dos que acham que era preciso, sim, comemorar de alguma forma. Mas seria estúpido dizer "a multidão está errada". Bem mais inteligente é tentar entender a razão dos seus sentimentos. O senhor, como sociólogo, entende essas coisas. Observei, então, que nos momentos em que a música era claramente afro-brasileira (no show e antes, com os Meninos do Morumbi) havia grande entusiasmo na platéia. Identificação, mesmo se tratando de brancos. Via diante de mim um povo, com uma linguagem em comum.. Já diante da cantora portuguesa, mesmo gostando, as pessoas pareciam não querer gostar. O mesmo sentimento que se encontrava, dentro e fora do parque, a respeito das outras celebrações, inclusive as de Porto Seguro. Pensei muito no que teria feito a diferença - isto é: o que teria feito as pessoas sentirem 22 de abril como uma festa sua. E cheguei à conclusão de que só existia UMA possibilidade: a de que o senhor, Presidente, houvesse convidado um ou mais representantes dos povos indígenas, bem como um ou mais representantes da comunidade negra, a estarem junto com o senhor em todos os eventos, com tratamento igual ao dado aos representantes de Portugal. E não como jogo-de-cena, e sim de fato ouvindo-os e convivendo com eles. |
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Iam lhe chamar de populista ou demagogo? Claro que iam. Por despeito. Pois isso teria tido a grandeza de um verdadeiro gesto de estadista. Estaria, além disso, afinado coma face mais avançada do "espírito do tempo", de modo que o faria de fato o primeiro estadista notável do novo milênio. A diferença não seria só para o senhor, mas isso, nesse momento, teria restaurado no povo brasileiro a capacidade de sentir-se uma nação - sentimento que, digam o que disserem, atualmente não existe entre nós. Não se diga que isso obrigaria a dividir o palanque com representantes oficiais das mulheres, sem-terras, homossexuais etc., pois o senhor sabe que, aqui, não estou falando de "minorias" ou de "excluídos", e sim dos grandes constituintes estruturais deste povo em termos étnicos, culturais. Poderia ter sido uma celebração do encontro, onde todos são sujeitos. Foi mais uma vez celebração do "descobrimento", onde um é sujeito e os outros são objetos - ou seja, do milenar expansionismo cultural indo-europeu sobre o mundo. Em seu mal-estar o povo revela compreendê-lo, embora lhe tenha sido negada informação histórica para entendê-lo com plena consciência. Não, não falo de "virarmos índios" voltando a formas de vida do passado. Falo de tratar com o devido respeito componentes étnicos massivos, absolutamente presentes e nada minoritários, que continuam tendo sua própria e complexa evolução cultural no anonimato e servidão. Conheci um faxineiro que poderia dar aula de mitologia universal e leitura de símbolos a doutores da USP graças a caminhos de formação "subterrâneos" - mas os doutores com certeza o olhariam como curioso objeto de estudo, e não como interlocutor de igual dignidade - a única coisa que faria deles, doutores, igualmente dignos frente ao olhar da História. Confesso que eu mesmo só atinei com a chave da festa no próprio dia 22 - mas o senhor é que é o Presidente, com função de representar este povo inteiro - e, convenhamos, na verdade isso era o óbvio. O senhor preferiu, no entanto e mais uma vez, delegar as escolhas a outros, deixando para manifestar sua eventual discordância com uma burocrática demissão depois dos fatos. E não só: preferiu deixar que quaisquer clamores fossem enfrentados com os mesmos métodos que na minha infância e juventude vi usados pelo regime militar. O senhor e amigos têm alegado o fato de terem sido vítimas desse regime, vociferando sua tradição de lutas pela liberdade, como salvo-conduto para fazer qualquer coisa agora. Não cola, Presidente. Os atos de um homem na sua posição são julgados pelo que são em si, no presente, não por sua história pessoal passada. |
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Os índios se deram o trabalho de marchar milhares de quilômetros até Porto Seguro porque eram os únicos que estavam levando esta data realmente a sério, Presidente. Não é o momento de entrar no mérito dos outros movimentos envolvidos, mas o senhor sabe que ninguém iria até lá só pelo gosto de ser do contra e encrenqueiro. Fascistas, eles? Não creio que quisessem calar a voz de ninguém, apenas que a deles também estivesse presente, expressão de mais uma parte de um tecido social vasto, complexo - e real. Não sabem conviver com a discordância? Ora, Presidente, parece que aí há uma pequena inversão! No mais, faz diferença quando um interlocutor está no poder e sua palavra é praticamente lei, e o outro tem que fazer literalmente horrores para que sua opinião apareça, com freqüência adulterada, em umas poucas linhas de jornal. O senhor diz que a discordância tem que se dar nas formas da lei e da ordem. Claro que assim devia ser - se a lei e ordem instituídas de fato representassem a todos. O senhor, como cientista social, sabe que não é assim. Sabe que as regras presentes foram feitas de modo a garantir que os interesses de algumas classes e forças sociais sejam hiper-representados, e que, seguindo essas regras, os interesses da maioria nunca conseguem se fazer valer. O senhor sabe que nosso legal não é expressão do legítimo - mas agora que está do lado de lá parece ter preferido esquecê-lo. |
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Enfim, este é o aviso: não há serviço de informação que dê conta de levar adentro dos palácios de Brasília o cheiro da inquietação que está nas ruas, Presidente. Como o senhor sabe, o povo brasileiro detesta a desordem aberta, a ponto de parecer passivo. Mas ninguém agüenta mais sentir que estamos mal e mal sobrevivendo, em meio a desemprego e limitações atrozes, a dores reais, para "estabilizar um país", e esse mesmo "país" não leva minimamente a sério nossa voz nem nossa existência. Ao empresário o sacrifício atinge como uma empresa fechada, uma casa ou carro a menos. Aqui mais embaixo, Presidente, são milhões de pernas e estômagos doendo (se não de fome, de angústia), de diplomas de Segundo Grau que não atestam aprendizado nenhum, de filhos queridos sem mais horizonte que o horror das FEBEMs - o qual, aliás, uma única frase sua tem poder de canalizar recursos bastantes para resolver, mas o senhor faz de conta que não tem. O homem comum está irritado, Presidente. Não identifica com clareza os dados envolvidos, e não sabe aonde dirigir sua irritação. Estão começando a jogar latas uns nos outros. A tensão vem crescendo geometricamente nos últimos meses. Tende a se tornar visível como desordem aberta. Aí vão culpar ideologias e grupos infiltrados - mas o senhor, Presidente, com o que já passou, não vai achar que isso cola, não? Também vão reclamar uma autoridade forte que controle a desordem "que vem de baixo" - quando, o senhor sabe, a desordem foi provocada embaixo pelas decisões de cima. É possível que o processo se arraste e só se torne insuportável nas mãos do seu sucessor - e aí o senhor "não teria nada com isso". Mas será possível que o senhor queira passar à História como um especialista em lavar as mãos, Presidente?!? Sabemos que, como nos tempos bíblicos, existem autoridades poderosas mais acima, que "soberania nacional" mal existe nestes tempos de corporações e FMI. Não queremos que seu governo dê murro em ponta de faca, no fim sacrificando a nós todos, como uma Cuba ou Iraque. Reconheço que tem sido um governo "de bom senso" no nível internacional. Mas precisávamos um pouco mais que bom senso, Presidente: sem abrir mão dele, precisávamos um pouco de ousadia, de coragem, de "verás que um filho teu não foge à luta"... Não de força, mas de GRANDEZA, Presidente. Pois já passamos a duvidar que seja ao país que o senhor está protegendo com tanto "bom senso", pois o país está estropiado. E nada mais patético que um Presidente que protegesse à sua própria pessoa, em lugar de encarnar o país. E jamais se poderá encarnar um país que não se conhece mais, que ficou afastado do outro lado das barreiras policiais. |
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Não sou ninguém, Presidente. Tento colocar o conhecimento e experiência que tenha a serviço das pessoas em volta, com vistas à construção de uma nação digna, de baixo pra cima, de dentro pra fora, na perspectiva dos séculos. Isso não me garante sequer o acesso a uma página de jornal - mas por alguma razão sei farejar a História no ar, e assim sinto o dever de registrar estas palavras, nem que seja para soltar folhas ao vento. Talvez alguma consiga voar por cima das barreiras policiais, econômicas, institucionais. Se não, pelo menos não me omiti. Reafirmo que não tenho envolvimentos partidários - se tivesse diria estas palavras só a alguns, não diante de todos e muito menos do senhor. Faço isso por fé de que este amontoado de pessoas e culturas tem tudo para ser uma das mais belas civilizações que já entraram no palco da História - e que merecemos construir isso vivendo de forma digna desde já. Espero não ser o último a crer. Aliás, olho em volta e vejo tantos jovens das classes periféricas, brilhantes na mente ou no coração, lutando para crer em si, e SEI que não sou o último. E é sobretudo a eles, senhor Cardoso, que caberia a um Presidente representar. |
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Os REBELDES PROGRAMADOS da Dona Burguesia |
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...
foi um projeto O
nome fazia referência |
Me
pediram pra escrever um artigo aqui para uma nova revista feita por
jovens, para jovens... eu que neste ano de 1998 já fiz meus 41
aninhos... Faz sentido? Bom...
talvez sim... porque entra ano, sai ano, e eu continuo sem engolir o
papo de que “as coisas são assim mesmo, querer mudar o
mundo é para trouxas.” E...
entra século sai século, espírito
de juventude foi sempre o de não
se conformar com o que está
aí – não apenas pelo gosto de discordar, mas porque sempre
houve mesmo coisas que precisavam ser mudadas, e geralmente foram
os jovens quem teve a coragem de apontar. Só
que aí... tem um paradoxo (uma coisa que pela lógica não podia ser
assim, mas é): E
então... por que é que as coisas continuam
tão tortas? Minha
aposta é que isso tem razões de dois tipos – e contar pra vocês
essa minha aposta é provavelmente o melhor que eu posso fazer aqui
neste espaço! |
Este texto foi produzido a pedido desses jovens, e nunca publicado até 01.05.2006 (entrada desta página no ar), já que o projeto da revista teve de ser abandonado. Alguns aspectos do texto podem parecer despropositados hoje, pois são referência a tendências e modismos destacados naquele momento pela imprensa - porém
não creio que esteja superado Na
época a intenção era assinar o texto como "Ralf Rickli, |
Razão 1: Tempo,
tempo, tempo... Parte A: Os
jovens... não continuam
jovens pra sempre. Por um infeliz ou feliz fenômeno, com o passar do
tempo os jovens costumam virar outra coisa. Verdade que sempre vêm outros
jovens, novinhos, só que eles recomeçam a luta quase do zero:
aproveitam pouco das revoluções começadas pelos que eram jovens um
pouco antes, pois iam ter a impressão de serem meros seguidores, e não
verdadeiros rebeldes... E a caravana da sacanagem mundial vai seguindo
em frente, enquanto os rebeldes de diferentes revoluções brigam entre
si... Parte B: Ao mesmo tempo, os velhos rebeldes vão sendo “comprados pelo sistema” com vantagens pessoais. É um bom emprego aqui, um carguinho político ali... “Agora ou vou enfrentar o sistema por dentro”, sacumé, e aí, de repente, quando se está em cima, a ordem das coisas já não parece tão ruim assim... “Se está bom (para mim...), porque é que eu vou querer mexer?” Mas
a maior parte nem precisa ser comprada: com a pressão das
necessidades da sobrevivência, a sua e a dos filhos que vão vindo,
acaba engolindo qualquer condição. Enfim, numa certa medida, é natural mesmo que a inovação seja trazida pelos que são jovens naquele momento, e que os mais velhos cuidem de bancar os novos jovens. Isso faz parte de uma “ordem cósmica” com a qual é melhor aprender a jogar pois é realmente maior que nós, não vai mudar e nem tem porquê: não é a ordem cósmica quem nos * , é a ordem humana! Mas isto é assunto pra outro
papo, outro dia. Agora interessa mesmo é ver a... |
...
uma
palavra que eu havia criado e que mais tarde chegou a ganhar a imprensa por via de um movimento de alunos de uma escola de classe média no Alto da Lapa - que receberam a palavra dos jovens da Trópis. Mas
ao contrário do que parece ser regra solicitaram por escrito autorização
para o uso da palavra, e sempre mencionavam a |
Razão 2: A Rebeldia Programada O sistema é esperto. Percebeu faz muito tempo que os jovens nunca vão deixar de querer ser rebeldes! Rebeldia de jovem é “parte da natureza”, combatê-la seria como enxugar gelo... e o sistema não joga esforço fora. Senão não seria rico e poderoso. Mas
também não seria se aceitasse viver com ameaças ao seu poder dentro
de casa. Qual a saída pra ele, então? Ora, ele vai lutar com as armas que tem; com a natureza dele. E a natureza do tal sistema é... vender. Todo mundo sabe que ele vende a mãe – e nem sempre entrega. Então: antes
que o jovem ameace com sua rebeldia espontânea, oferece-se rapidinho a ele,
para comprar, um modelito pronto de “rebeldia”, que não ameace! Só que... esse modelo não pode parecer light,
senão o jovem não vai se sentir
rebelde! Afinal, rebeldia tem um lado de destruição:
pra fazer as coisas de uma forma nova, é preciso largar uma forma
velha. Se ela resiste, a coisa vira luta. (Isso não é o que eu
acho nem o
que eu quero: só estou descrevendo as coisas como são. Ou eram). Então, o que é que o sistema faz? Ele vende um
modelo que pega o impulso
destrutivo saudável do jovem (!) e o volta contra
o jovem mesmo! Exemplo? Tinha o movimento hippie, que reagiu contra o “jeito certinho” dos americanos que,
certinhos como eram, despejavam plástico derretido com gasolina em
chamas em cima de aldeias no Vietnã. Os hippies rejeitavam essa cultura
da morte. Tinham seus erros como todo mundo, mas eram uma afirmação do
direito da Vida. Força da natureza, cores, movimento, tesão. Aí depois de um tempo a imprensa começa a dizer que isso era careta, já tinha passado, que o quente agora era ser punk: cores escuras, símbolos de morte, ferros enfiados pelo corpo. Drogas que não te dizem “olha, as coisas podiam ser mais bonitas na real, não engula a merda que estão te dando!”, e sim que te prendem num amortecimento gostoso mas que não te mostra nada, enquanto carcomem teu corpo & mente rapidamente – pois aí, quando você se toca que embarcou na rebeldia errada, já não tem mais condições de combate! Em
resumo, a moda proposta foi dizer: “o sistema fez de mim um lixo”... e aceitar
ser o lixo, obedecendo o
sistema. Não, gente, o punk não surgiu como um movimento espontâneo, das ruas: tinha um
ou outro espontâneo sim, mas aí alguns espertos pegaram,
transformaram em estilo e saíram vendendo a idéia. E ficaram ricos. E só virou movimento de massa
com muita insistência da imprensa. Eu tava por aí nesse tempo, gente,
eu vi... Tô dizendo que não gosto de punk? De jeito nenhum. Tem punks ótimos. O problema é que é um programa sem futuro, não muda o mundo, apenas tira do combate real os que mais poderiam mudar as coisas (os jovens), fazendo-os combater a si mesmos. Tá na música do Cazuza e Lobão que a Cássia Eller gravou: “eu não posso causar mal nenhum... a não ser a mim mesmo”. Ai!
Eu adoro esses três, mas essa é de lascar. É de quem engoliu a isca
com anzol e tudo, tá sangrando e diz “quero mais”. Aí o sistema se
finge de escandalizado, enquanto por outro lado manda um representante
cheio de ferros recolher as moedinhas que a nova moda vai rendendo.
Se o tal sistema existisse em forma de pessoa, estaria gargalhando de
gosto. |
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Whisky de cana Eu não
sou um seguidor daquele sujeito barbudo, o Karl – vocês sabem, o Marx
–, porque afinal não acho que o negócio é ser seguidor...
mas a gente tem que reconhecer que ele tinha “umas puta sacada”. Uns
150 anos atrás ele mostrava como funciona “a burguesia”, essa
classe de “respeitáveis cidadãos” que manda na “ordem” do
mundo faz uns séculos, tirando proveito de tudo, até das coisas menos
respeitáveis. Mostrava que essa classe cria até “revoluções” que
não revolucionam nada, como forma de “distrair” o impulso de mudança.
Como dizem os franceses, “quanto mais muda, mais fica a mesma
coisa”. Mas acho que isso já vem de antes. É como se toda idéia boa, para alívio da humanidade, que Deus ou as Forças do Bem têm (chame como quiser), o diabo vem depressa e põe uma imitação barata no lugar, que continua a opressão. O próprio Marx, as palavras libertárias
dele foram usadas como fachada por sistemas de opressão. E o JC? O
mestre Ióshua? (o Jesus Cristo!): rebelde da gema que vagava de vila em
vila "com um bando de malucos” criticando a ordem dominante,
pegaram a imagem dele como emblema de um dos maiores sistemas de opressão
já inventados! Aliás, a grande arma desses foi pegar o sexo é misturar com culpa. Sexo é fogo; como fogo, tem que ser manejado com muita responsabilidade – mas ao mesmo tempo é simples como esquentar café de manhã. Bem usado, garante em cada um de nós a sensação de estar vivo, livre, forte, sem dever nada a ninguém. Ora, como dominar e tirar proveito
de quem está tão bem? Primeiro passo: dizer que pelo sexo, pelo
prazer ao qual ninguém foi feito pra resistir, você tem parte com o
diabo, com o mal. Aí esse tipo de “religião” passa a vender perdão para uma “culpa” que ela mesma inventou. E abre caminho para o segundo passo: já que (dizem eles) pelo sexo eu sou do mal mesmo, então que diferença faz entrar mais fundo no mal? Sado-masoquismo: o prazer às custas da dor do outro e da auto-destruição. Isso é Revolução Sexual? Revolução sexual falsificada, scotch de cana, com ressaca e tudo! Mais uma vez, o que era pra ser Celebração de Vida vira cultura da morte, auto-destruição do rebelde – não sem que o sistema tire sua casquinha, vendendo, vendendo, vendendo e se deliciando de tanto vender. |
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Proibido
pensar? Hoje, ao que parece, não tem um movimento claro que domine a cena. “Ideologia, eu quero uma pra viver”, cantou o Cazuza – usando a palavra evidentemente no sentido de "filosofia de vida" (que não é o sentido técnico da palavra). O certo é que os jovens sentem falta de eixos filosóficos para organizar o que percebem por aí, e a Dona Burguesia continua vendendo suas “ideologias” de imitação - o que afinal é parte da sua ideologia de verdade (aqui no sentido técnico). Uns exemplos agora de 1998: taí nos jornais dona Erika Palomino marketeando a “cultura clubber”: o que conta é se divertir. E só. Não, não tenho nada contra a gente se divertir. Mas... só? Ai, dá um tédio... Enquanto isso o sistema avança, cada-vez-mais-rico a custa de cada-vez-mais-dor de cada-vez-mais-gente.
E os únicos que podiam resistir, os jovens, são convencidos que ser crítico
é careta, pensar é careta, é melhor não por em risco o sistema e os
brinquedinhos que ele vende pra “se divertir”. É a mesma coisa o Álvaro Pereira Jr., que escreve sobre rock no caderno para jovens de um grande jornal paulista: pra ele é simplesmente ridículo dizer que música, rock, MPB, a que for, pode servir pra pensar, refletir sobre a vida, a existência, o mundo... Mas
isso
costumava ser a marca mais forte da adolescência, não? (vide
cadernos & diários). Mas agora, diz o Sr. APJ, é careta e ridículo.
O que presta é apenas barulho e quebradeira – desde que somente pra se
divertir, nunca com intenção de melhorar alguma coisa no mundo. Em outras palavras:
tão dizendo que jovem só presta pra fazer
barulho. Pensar e escolher rumos não é pra jovem nem pra artista. É pra quem então? Para a ciência, pros
especialistas? Pra alguém, sei lá quem, lá em cima? Para a direção
das redes de tevê? Aliás, é bom lembrar que esse “jovem”
jornalista já foi
editor do programa dominical que vem sendo há décadas o mais fantástico
instrumento multinacional do emburrecimento nacional de crianças,
jovens & adultos! Você engole esse papel, ou falta de papel, que querem
deixar pros jovens? Eu não. Não sei se isso é sinal da velhice
chegando!, mas ainda tenho a impressão de que, se alguma coisa vai nos
arrastar um pouquinho que seja pra além da * que está aí, ainda vai
ser a rebeldia e a força dos jovens que não abrem mão de pensar! Sofia
Convivial foi criada para nós por
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